Guerra na Ucrânia: os russos que delatam colegas e desconhecidos
Na divulgação de uma prática comum durante a era soviética na Rússia, a denúncia de vizinhos, colegas e desconhecidos às autoridades, apresentamos os atuais cenários da guerra na Ucrânia, evidenciando a história de Anna Korobkova. Moradora de uma grande cidade russa e denunciante em série da sua própria nação.
Dizendo ter aprendido a prática de delatar com o avô, um informante anônimo da polícia secreta soviética do tempo do governo de Stalin, Korobkova afirma ter feito 1.397 denúncias desde a invasão russa à Ucrânia. Seus alvos, segundo relatos, são geralmente punidos com multas, demissões e até rotulados como agentes estrangeiros.
Desde o início da agressão à Ucrânia, em fevereiro de 2022, com o endurecimento da censura, Korobkova passa a maior parte do seu tempo livre on-line, denunciando pessoas que, na sua percepção, “desacreditam o Exército russo” — crime com pena de até cinco anos de prisão ou multa de até 50 mil rublos russos (R$ 2,6 mil).
Acreditando estar ajudando a Rússia a vencer a guerra e proteger a própria estabilidade financeira, ela denuncia, sobretudo, pessoas que conversam com a imprensa, principalmente meios de comunicação internacionais. Aleksandra Arkhipova, antropóloga, é um exemplo de suas vítimas. “Ela me denunciou sete vezes”, declara Arkhipova, rotulada como agente estrangeira pelo Estado russo em maio.
Outra vítima da prática de delação de Korobkova foi uma professora de Moscou chamada Tatiana Chervenko, que após denúncias, foi demitida em dezembro de 2022. Dados do grupo independente de direitos humanos russo, OVD-Info, mostram que desde a introdução das novas leis de censura, mais de 8 mil processos foram instaurados por desacreditar o Exército.
Com a evolução dos conflitos na Ucrânia, a vigilância e as denúncias têm sido aterradoras na Rússia. Controvérsias entranhadas nesta prática de delatação parecem caminhar ao lado da guerra, postergando as perspectivas de paz.
